Numa era em que as celebridades mais proeminentes do planeta esforçavam-se ao máximo por mostrar, ao vivo, nas redes sociais e na TV, que merecem adjetivos como "reais" e "autênticas", Nicki Minaj faz exatamente o caminho oposto.
Do alto do seu 1,52 metros, Onika Tanya Maraj (nome de batismo da artista) criou uma pessoa pública que agrega todas as características, que, aparentemente, não são atribuíveis a uma mulher de sucesso na competitiva indústria da música: "boss bitch" (algo como uma "cabra mandona"), uma imagem construída com roupas, acessórios e maquilhagem propositadamente exageradas, uma combinação bizarra entre Liberace, Lady Gaga, Kim Kardashian... e ainda um gostinho de Trash TV.
Celebrando a polémica artista de 32 anos, nascida em Trinidad e Tobago, a New York Times Magazine dedica-lhe um extenso artigo, em que desfia ao pormenor as diversas polémicas em que Minaj já esteve envolvida, oferecendo ainda o outro lado da história, a versão sincera daquela que é, atualmente, a artista de hip hop mais influente do mundo.
A afronta e o confronto são duas das principais armas de Nicki. No início do Verão, quando foram anunciados os nomeados para os MTV Video Music Awards, a cantora não hesitou em afrontar o mais antigo canal de música do mundo (e ainda, o mais importante, se não contarmos com as plataformas digitais), questionando os critérios que levaram a que Anaconda (o vídeo onde surge a abanar as nádegas, a devorar uma banana, metáfora fálica, e que incluo um sample do êxito de 1992, Baby Got Back, de Sir Mix-a-Lot) ficasse fora do lote de candidatos a Vídeo do Ano.
"Se eu fosse uma artista de outro 'género', Anaconda tinha sido nomeada", escreveu Minaj na sua conta de Twitter, onde é seguida por 20 milhões de internautas. Acrescentou ainda: "Se o teu vídeo celebra mulheres com corpos muito magros, serás nomeada". A provocação, uma indireta às princesinhas da pop, com Taylor Swift, surtiu efeito. E daí se desencadeou uma troca acesa de tweets entre aquelas que são duas das maiores artistas pop da atualidade. Atalhando caminho para 30 de Agosto de 2015. Na cerimónia de entrega dos Video Music Awards, em Los Angeles, eis que o mundo assiste ao enterrar do machado de guerra entre Swift e Minaj, mas eis que a intérprete de Starships aproveita o momento em que recebe o galardão de Melhor Vídeo de Hip Hop para iniciar uma nova batalha.
Desta feita com Miley Cyrus que, semanas antes, havia acusado Nicki, em entrevista ao The New York Times, de "não ter coração" e ser "desrespeitosa". Foi, numa era em que os MTV Video Music Awards são cada vez mais irrelevantes, o momento da noite. "Miley, what's good?" foi a frase que mais ecoou nos dias seguintes à cerimónia.
Em declarações à New York Times Magazine, Nicki Minaj explicou as razões da sua reação intempestiva. "O facto de ela ficar perturbada com o facto de eu falar sobre algo que afeta as mulheres negras dá-me a impressão que ela deve ter uns grandes tomates. Aparecerem em vídeos com homens negros, levas mulheres negras para o teu palco mas não queres saber como é que as mulheres negras se sentem afetadas por algo tão importante?", questiona Minaj.
Sexo, poder e um dinheiro
Sexo e desigualdade de género são temas que atravessam o conceito de se Nicki Minaj. Em todas as suas músicas, a cantora desconstrói o politicamente correto. Fala da sua genitália, atribui-lhe nomes, transforma partes do seu corpo (o rabo, habitualmente) em personagens. É uma forma de chamar a atenção para a desigualdade de género e também uma forma de empowerment.
"Há tantas raparigas a ter bebés que não sabem o que dizer a uma criança, mas têm esse filho à mesma porque 'quero ficar com este gajo' ou 'aconteceu'.", lamenta Minaj, questionando: "Porque é que nunca temos controlo da situação? Porque é que somos nós a ficar com a criança? Porque é que somos nós a ficar na fila para receber os subsídios do Estado? Porque é que temos de ser sempre nós a mendigar, pediremprestado ou roubar para sustentar os nossos filhos?"
Criada no seio de uma família desestruturada, Minaj conviveu de perto com o consumo de drogas no bairro onde cresceu em Queens, Nova Iorque. O dinheiro (ou falta dele) sempre omnipresente. "Desde pequena, via o facto de uma milher não ter dinheiro como uma maldição", relata à The New York Times Magazine. A vida de Minaj dava um filme... ou uma série cómica. A artista vai ser produtora de uma sitcom autobiográfica, que será emitida pelo canal norte-americano ABC Family.