segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Anneliese Michel: A adolescente que inspirou "O Exorcismo de Emily Rose"


 Se tu ainda não viste, provavelmente já ouviste falar de "o Exorcismo de Emily Rose", um dos filmes de terror mais fortes de todos os tempos. O que tu talvez não saibas é que ele foi feito inspirado na história de uma jovem chamada Anneliese Michel, nascida na cidade alemã de Leiblfing em 1952 e morta em Klingenberg am Mainque, em 1976.

Foi aos 16 anos que Anneliese começou a apresentar sérios problemas de comportamento. A família da jovem procurou ajuda médica - ela já tinha um histórico de distúrbios mentais e epilepsia -, mas nenhum tratamento resolveu a situação e, depois de algum tempo desenvolveu comportamento agressivo, rasgando roupas e até mesmo a defecar em público, Anneliese disse à sua família que estava possuída por espíritos demoníacos e implorou por ajuda.


Medo
A casa da família, a essa altura, já era conhecida na vizinhança como um lugar onde coisas estranhas aconteciam. Lá, Anneliese e os seus pais viviam numa rotina de medo e incerteza. Ainda que os médicos tivessem dito que a adolescente sofria transtornos psiquiátricos, a experiência da jovem parecia ir além do que qualquer diagnóstico médico era capaz de descrever. 

Assustados, os pais da jovem conseguiram autorização com o bispo da cidade e, com a ajuda de um padre, passaram a realizar exorcismos consecutivos - foram 67 rituais em nove meses de tratamento religioso, de acordo com Elizabeth Day, que escreveu sobre o assunto no Telegraph. O processo resultou na morte de Anneliese, desnutrida e desidratada, pesando pouco mais de 30 kg, em 1976.

A desnutrição foi ocasionada graças aos inúmeros jejuns aos quais a mesma se submetia, na crença de que isso afastaria os demónios do seu corpo. Pelas condições da jovem no momento da sua morte, os seus pais e os padres responsáveis pelos exorcismos foram considerados culpados por homicídio negligente. 

Em 1999 o pai de Anneliese morreu e, a partir de então, Anna Michel, mãe da jovem, morou na mesma casa, sozinha, a dormir num quarto que dava para o jardim onde está enterrada a filha. Sobre o túmulo, uma cruz, com a inscrição "descanse em paz".


Adaptação
O filme "O Exorcismo de Emily Rose" deixa de seguir o padrão de "O Exorcista" e, em vez de se focar nos momentos de possessão, acaba por voltar-se mais às consequências legais que envolveram os padres e os pais de Anneliese. Anna soube a respeito do lançamento do filme e, em declaração publicada no Telegraph em 2005, disse que não queria ver o filme nem saber nada a respeito. 

Apesar de nunca ter gostado de falar a respeito da morte da filha, Anna disse que não se arrependeu das suas ações. Extremamente religiosa, Anna acredita que a filha precisava realmente passar pelos rituais de exorcismo: "eu sei que nós fizemos a coisa certa porque eu vi o sinal de Cristo nas mãos dela", revelou. Anna disse também que a filha morreu para salvar outras almas pecadoras.

Quando falou sobre a filha antes das sessões de exorcismo, Anna, que deu a entrevista já na casa dos 80 anos, disse que Anneliese era uma menina gentil, amável, doce e obediente, "mas quando ela estava possuída era uma coisa não natural, algo que não se pode explicar", completou a mãe ao descrever a filha. 


Pecado
A família religiosa de Anneliese tinha um segredo: Anna teve uma filha antes do casamento, Martha. Devido a isso, Anna foi obrigada a casar-se usando um véu preto e prometeu à sua família que a filha "ilegítima" teria uma vida religiosa. Acontece que Martha morreu aos oito anos de idade, durante uma cirurgia para remover um tumor nos rins. O peso do pecado da mãe passou de uma filha para a outra.

Ao contrário das outras crianças da sua idade, Anneliese levava uma vida cheia de punições, para pagar os pecados da mãe. Vale salientar que não era Anna quem mandava que a filha se sacrificasse, mas a própria Anneliese fazia questão, por exemplo, de dormir num chão de pedra como sacrifício pelas almas pecadoras do mundo. 


Histórico
As convulsões começaram em 1968, quando a menina tinha 17 anos. Diagnosticada com epilepsia, Anneliese começou a ter alucinações sempre que rezava. Em 1973 ela enfrentava um quadro grave de depressão, com pensamentos suicidas. Nessa mesma época ela começou a ouvir ordens de vozes que vinham da sua cabeça. 

A situação ficou tão crítica que, em determinado momento, ela já estava a realizar 600 flexões de joelhos por dia, o que acabou por romper com alguns ligamentos da região. Além disso, ela arrastava-se debaixo da mesa e latia. Anneliese chegou a comer aranhas e morder a cabeça de um passarinho morto. Ela urinava no chão e lambia o próprio xixi. Quando não estava a fazer alguma coisa bizarra, gritava por horas sem parar.

Em 1975 a família conseguiu autorização do bispo de Wurzburg para realizar os exorcismos pelos quais a jovem passou nos últimos meses da sua vida. A essa altura, Anneliese já tinha sido diagnosticada como esquizofrénica, mas recurou-se a tomar os remédios prescritos. Outro detalhe importante: em 1973, "O Exorcista" foi lançado - algumas pessoas dizem que o filme pode ter influenciado o comportamento da jovem. 


Sessões
O fato é que um padre e um pastor realizaram sessões de exorcismo semanalmente em Anneliese, em rituais que demoravam até quatro horas. O padre Arnold Renz disse ter identificado vários demónios no corpo da jovem, entre eles os de Lúcifer, Judas, Nero, Cain, e Adolf Hitler, que teria falado com sotaque austríaco.

Das sessões, há 42 horas de áudio gravado - dizem que quem ouve fica apavorado. As gravações revelam diálogos entre os supostos demónios, gritos, sussurros, grunhidos e palavrões. Os exorcismos geralmente chegavam ao ponto de Anneliese precisar ser acorrentada.

Em 1976, a jovem já estava visivelmente doente: magra, pálida e com pneumonia, ela ia enfraquecendo cada vez mais até que morreu no dia 1 de julho do mesmo ano. Por mais que quase 40 anos se tenham passado desde então, o assunto é evitado pelos quase 2 mil moradores da cidade até hoje.

O caso envolveu a igreja católica também, que, em 1984, pediu que o Vaticano revisasse os rituais de exorcismo com base no caso de Anneliese - um novo ritual só foi publicado em 1999. De acordo com o Vaticano, são praticados em média 350 rituais de exorcismo anualmente em todo o mundo.
 

 



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