Embora em Portugal a maioria dos smartphones topo de gama custe bem mais do que um salário mínimo nacional, há quem pague 40 vezes mais do isso só para manter os filhos afastados desses aparelhos.
Nos últimos cinco anos, com a popularização da internet e dos smartphones, dezenas de clínicas de reabilitação surgiram nos arredores de empresas como o Facebook, Twitter, Apple e Google, em Silicon Valley, nos Estados Unidos, com a oferta específica de tratamentos para jovens que passam até 20 horas por dia agarrados aos ecrãs de cristal líquido.
É o caso da Paradigm, uma mansão cercada por jardins e câmaras de segurança no ponto mais alto de uma das colinas de São Francisco, com vista a ponte Golden Gate, o cartão de visita da região.
Sem placas de identificação e acessível apenas de carro,a Paradigm hospeda até oito jovens de cada vez, em internamentos compulsivos que duram em média 45 dias, podendo chegar aos 60 dependendo do grau de dependência e dos fatores associados, como depressão, ansiedade e agressividade.
O valor impressiona: 1.633 dólares, cerca de 1312 euros, por noite. O custo do internamento completo é só multiplicar por 45 ou 60, ao qual acresce o pagamento das consultas médicas.
Dentro deste casarão, os telemóveis, computadores portáteis e tablets estão proibidos. Existem, sim, computadores, mas não são portáteis, estão afetos a atividades curriculares e o seu acesso às redes sociais, chats de conversação e pornografia está bloqueado.
Com hora para acordar, estudar, almoçar e participar em terapias coletivas e individuais, a promessa da clínica é "reprogramar" os jovens para que eles possam reconstruir a sua relação com a tecnologia e com as pessoas que os rodeiam no mundo offline. "Nós desconectamo-los. Essa é a regra", resume Danielle Kovac, diretora da clínica, à BBC.
"Eu diria que é um período de ajustamento. Mas o melhor é ouvir muitas pessoas dizerem-nos no final: 'Obrigado por não me deixarem ficar com o telefone ou com acesso às redes sociais. Fui capaz, realmente, de me concentrar em mim'".
Os sintomas
Citado pela primeira vez por um psiquiatra de Nova Iorque, em 1995, o vício da internet ainda não é uma doença oficialmente reconhecida. A obsessão por viodeojogos já é.
Mas em países como a Austrália, China, Itália e Japão, o problema já foi identificado pelas autoridades de saúde. Na Coreia do Sul, pro exemplo, a dependência da internet está classificada como um "problema de saúde pública", havendo um programa nacional de combate a esta patologia do foro psiquiátrico.
Para os diretores da Paradigm, em São Francisco, a internet pode agravar transtornos de humor e de saúde mental e serve como um "refúgio seguro e anónimo" que afasta os jovens das suas relações com o mundo real.
Segundo Danielle Kovac, o diagnóstico da dependência de internet repete o padrão de outros vícios: "É quando começa a afetar outras áreas da vida, como a vida social ou a escola. Muitas vezes, vemos que as notas escolares caem porque as crianças estão no Facebook ou no Instagram durante a noite toda e não se conseguem levantar para ir à escola nem se focar nas tarefas", afirma em declarações à BBC.
Esta especialista alerta ainda que a irritação fácil, comportamentos dissimulados e isolamento crescente são outros sinais de alerta. A diretora diz que o internamento na Paradigm funciona como um botão de "reset", ou seja, um reinício ou reconfiguração das mentes dos pacientes.
0 comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.