segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Já ouviste falar das intrigantes múmias de Kabayan?

Geralmente, quando pensamos em múmias, a primeira coisa que vem à nossa mente são aqueles corpos completamente enfaixados e preservados há milhares de anos no Egito. No entanto, existem diversos tipos de múmias e processos de mumificação pelo mundo - e um bastante interessante e pouco conhecido é o das Múmias de Kabayan, uma cidade localizada na província de Benguet, nas Filipinas.

As múmias estão associadas ao povo Ibaloi, um grupo indígena que há milénios habitatavam em Kabayan, uma região montanhosa situada no norte do país. Eles dedicavam-se principalmente ao cultivo do arroz e costumavam ser bastante hospitaleiros com os "forasteiros". No entanto, as suas terras também guardam algo curioso: uma montanha cujo cume serve de necrópole para centenas de corpos mumificados guardados em cavernas.


Localização não divulgada

As Múmias de Kabayan só foram descobertas no início do século 20, quando a atividade industrial chegou a Benguet - e um grupo de madeireiros tropeçou nelas. O problema é que os corpos começaram a ser empilhados, e não demorou até o local onde a necrópole se encontra, tornar-se num dos sítios arqueológicos mais ameaçados do mundo.


O governo filipino foi obrigado a tomar uma série de medidas para preservar as múmias, e é por isso que hoje é bastante difícil encontrar a necrópole. Para começar, a localização exata do sítio é mantida em segredo pelas autoridades, mas, até onde se sabe, para chegar às múmias, é necessário enfrentar uma longa viagem de carro pelas tortuosas estradas da montanha - e mais 5 horas de trilha.

Por fim, quem consegue chegar à necrópole depara-se com uma porção de cavernas com as entradas protegidas por grades e cadeados. Pois as múmias encontram-se no interior dessas cavernas, preservadas - algumas delas há mais de mil anos - dentro de estranhos caixões de madeira.


Processo de mumificação

Um dos fatores que tornam as Múmias de Kabayan tão intrigantes é o ritual utilizado para preservar os cadáveres. Isso porque o processo de mumificação era iniciado enquanto a pessoa ainda estava viva! Assim, quando algum integrante da tribo Ibaloi se encontrava à beira da morte, esse indivíduo consumia uma bebia salgada que começava a desidratar o seu corpo gradualmente.

Os corpos eram mumificados sentados.
Após a morte, o morto era completamente lavado e colocado na posição sentada sobre uma fonte de calor para ser defumado - durante semanas e até meses inteiros. Com isso, os cadáveres iam perdendo toda a água até, eventualmente, ficarem aparentemente secos e mumificados. No entanto, os corpos não eram defumados apenas exteriormente.

Depois de finalizar a primeira etapa do processo, a seguinte envolvia defumar o interior dos corpos - e os seus órgãos - também, com o fumo de tabaco introduzida através da boca dos cadáveres. Por fim, após a mumificação ser terminada, os corpos eram novamente limpos com ervas, colocados em pequenos caixões de madeira e guardados no interior de cavernas.


O costume de preservar os mortos através desse elaborado processo começou a entrar em declínio por volta do século 16, quando os colonizadores europeus chegaram às Filipinas - e os habitantes locais passaram a adotar as práticas dos estrangeiros para lidar com os seus mortos.


Pilhagem

Infelizmente, conforme foi mencionado, depois que as Múmias de Kabayan foram descobertas, diversas delas foram roubadas e vendidas a preço de ouro a colecionadores internacionais. As autoridades filipinas conseguiram recuperar 8 das múmias há alguns anos - as quais foram devidamente devolvidas às cavernas depois dos integrantes da tribo Ibaloi conduzirem um novo ritual funerário.


Entre elas estava a de Apo Annu, um importante líder tribal que morreu há pelo menos 500 anos e que tinha o corpo coberto de tatuagens. As investigações sobre o seu desaparecimento revelaram que a múmia tinha sido surrupiada por um pastor filipino que acabou por se tornar a atralão de um circo de Manila. Depois, ela passou pelas mãos de diversos colecionadores até ser doada a um museu em 1984 - que notificou as autoridades e devolveu a múmia ao povo Ibaloi.

Aliás, os integrantes da tribo ficaram bastante alividados com o regresso de Apo Annu, pois, como toda a múmia que se preza, ela também estava associada com uma maldição! Segundo os Ibaloi, depois do roubo do finado líder tatuado, a região foi atingida por longos períodos de estiagem, fome e até terremotos. Entretanto, ainda existem múmias "perdidas" por aí.
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